Atualmente vemos nos meios de comunicação e até nas
conversas entre as pessoas a preocupação com a questão ambiental. Até alguns
anos atrás a grande missão dos ambientalistas era divulgar o mais amplamente
possível a destruição da natureza pela humanidade, tanto que muitos ficaram
conhecidos pela alcunha de "ecochatos". No entanto a mensagem foi
recebida, tanto pelo trabalho desses pioneiros, quanto pelo avanço das
pesquisas científicas sobre o tema e, talvez ainda mais que isso, a evidência
do aumento da quantidade de catástrofes ambientais e das mudanças climáticas
pelo planeta.
Em relação ao aquecimento global, cujas pesquisas apontam
como causa a emissão de partículas - sobretudo o dióxido de carbono e o metano
- na atmosfera, que retem os raios infravermelhos irradiados pela própria
Terra, há uma ala conhecida como os "céticos do clima", que defende
que o período pelo qual passamos é uma ascendente dentro da oscilação natural
de aquecimento e esfriamento do planeta e que toda essa história é uma grande
farsa, uma conspiração que visa atender aos interesses do lobby capitalista. É
uma grande polêmica, mas as evidências nos mostram que, mesmo que estejamos
dentro desse período de aquecimento natural, a emissão desenfreada de poluentes
pela humanidade agrava esse processo, causando desequilíbrios de grandes
proporções.
Debater soluções para esses problemas envolve uma série de
cuidados e imprescinde um mínimo de conhecimento das suas causas, condições
que, infelizmente, raramente podem ser observadas na atualidade. Apesar de,
como dissemos acima, a questão ambiental estar na pauta do dia, ela é ainda
tratada com base numa série de misticismos, preconceitos e até deboche, seja por interesses
escusos ou mesmo simples ignorância. Esse cenário impede que se materialize
aquilo que verdadeiramente importa, que é a mudança dos hábitos insustentáveis.
No mundo globalizado de hoje, as sociedades estão
organizadas com foco nas cidades, nos núcleos urbanos que concentram a grande
maioria da humanidade. Praticamente todos os processos produtivos - e poluentes
- estão direcionados para a sustentação dessa organização espacial de ocupação
da superfície terrestre. E o problema principal disso é que a vida urbana
invariavelmente afastou e afasta os seres humanos da natureza, a qual fornece
as condições básicas de sua sobrevivência. Esse afastamento fez com que o ser
humano esquecesse que é parte integrante da natureza e passasse a tratá-la como
um mero armazém, onde busca aquilo que precisa - ou quer - sem se preocupar com
as consequências desastrosas dessa atitude, pois, afinal de contas, a natureza
não é um grande galpão, mas sim um conjunto de ecossistemas que abrigam
inúmeras formas de vida, algo cujo valor é impossível de ser calculado
economicamente.
No século 21 chegamos a um ponto em que ficamos diante de um
paradoxo. Temos as informações e a consciência de que precisamos de um ambiente
natural conservado que nos permita a qualidade de vida que queremos e
precisamos. Mas, também estamos refens de um modelo econômico consumista voraz
que, apesar de ser responsável pela manutenção de injustiças sociais, desequilíbrios
e violência, se reproduz, utilizando-se das armadilhas do conforto e do prazer
materiais excessivos, perante os quais a força de vontade dos homens se curva
docilmente. E esse sistema se sustenta de recursos naturais, devorando-os
descontroladamente.
Como solucionar essa questão? Estamos evidentemente tratando
de um problema de escala planetária, o que demanda uma solução na mesma
proporção. Mas qualquer trabalho coletivo, para ter êxito, precisa que todas as
suas partes individuais estejam cumprindo bem suas atribuições específicas,
como em um ímã, onde as partículas voltam-se todas para a mesma direção para,
assim, criar o campo magnético. Adotar hábitos sustentáveis no dia a dia e
diminuir o consumo é o caminho natural de quem deseja contribuir, além, é
claro, de cobrar dos representantes políticos atitudes práticas inerentes aos
seus cargos públicos. Mas como conseguir fazer isso se, como dissemos acima,
somos refens do sistema e da nossa própria parca força de vontade?
As cidades trouxeram, além da tecnologia, da evolução das
comunicações e do avanço científico, a possibilidade do aumento do
desenvolvimento mental para o ser humano. A mente humana é capaz de plasmar em
planos sutis os modelos prévios da realidade no plano material. A facilidade do
acesso aos meios de sobrevivência, objetivo original das aglomerações humanas,
possibilitou que mais tempo fosse dedicado à mente. Mas, nos últimos dois
séculos, o emprego desse poder mental da humanidade começou a ser desvirtuado
para a busca desenfreada do crescimento econômico e, em última instância, para
a satisfação dos sentidos materiais do ser humano. De uma forma ou de outra,
praticamente todas as instituições da sociedade estão voltadas para esses
objetivos, mesmo que não o declarem abertamente. Então, resta-nos buscar por
nossa própria conta o caminho de fuga dessa verdadeira - ou melhor, ilusória -
prisão.
É claro que não podemos esquecer-nos da justiça e,
principalmente, do incondicional Amor Divino presentes permanentemente em nossa
existência. Se estamos inseridos nesse cenário de vida é porque nosso Eu
eterno, nossas escolhas e nossa sintonia nos trouxeram até aqui. Mas estamos na
vida física justamente para empreender as mudanças necessárias para nossa
evolução. E o desejo sincero de mudar interiormente e o desejo de mudar o mundo
se confundem! Quando nos damos conta disso, começamos a compreender que Deus
não age exteriormente, mas sim através das nossas mentes e dos nossos corações!
A partir daí, passamos a ter as condições necessárias para, através de nossa
fé, direcionar nossa mente para construir meios de colocar em prática no nosso
dia a dia hábitos mais saudáveis e ambientalmente sustentáveis.
Esses hábitos sustentáveis colocados em prática são a forma
de fugirmos aos poucos desse círculo vicioso que estamos inseridos no modelo
capitalista de produção. Talvez mais que simplesmente fugir, essa é a forma de
transformar o sistema aos poucos, contribuindo para eliminar paulatinamente as
injustiças enraizadas nele. E o exemplo em nossos cotidianos é também a melhor
forma de sensibilizar aqueles próximos a nós e, por fim, convidá-los a
despertar para a necessidade de mudança. É o campo magnético começando a ser
criado...
As mudanças que podemos empreender em nosso dia a dia para
tornar nossa realidade mais ecológica e servirem de exemplo para nossos
semelhantes basicamente se resumem no conceito, muito utilizado nas ações de
educação ambiental, dos três erres (3 R's): reduzir, reciclar e reutilizar.
Reduz-se, retirando da nossa lista de compras e desejos coisas que não farão
falta para a manutenção de nossa qualidade de vida; recicla-se, colocando-se
aquilo que foi descartado novamente dentro do processo industrial; e
reutiliza-se, dando nova função para aquilo que seria descartado no lixo. Talvez
o mais significativo dos três seja o primeiro R - reduzir - pois ele implica em
uma mudança comportamental e até existencial mais profunda, pois vai contra o
princípio de que o capitalismo se utiliza para "prender" as pessoas
dentro da crença de que a felicidade está condicionada ao "ter", em
detrimento do "ser"...
Como exemplo de atitude a ser tomada, é praticamente
impossível não destacar, entre tantos, a mudança nos nossos hábitos
alimentares. O consumo de carne, leite e derivados é a atividade mais impactante
aos ecossistemas naturais em todo o planeta. As grandes extensões de pastagens
necessárias à produção eliminam florestas inteiras com toda sua biodiversidade
e capacidade de fornecimento de serviços ambientais imprescindíveis para a
qualidade de vida das pessoas, como a proteção dos mananciais de água, dos
solos, da regulação do clima e a possibilidade de contemplação de belas
paisagens, o que aproxima o ser humano de Deus. Além disso - na verdade, o
motivo principal - é o direito à vida que todos os seres vivos têm. Nós, seres
humanos, temos o dever moral, ético e evolutivo de proteger nossos irmãos
menores e não sermos seus carrascos, ainda mais para satisfazer um simples
desejo da gula, pois há provas cientificas mais que suficientes para comprovar
que não dependemos de proteína animal para nossa sobrevivência.
Outro exemplo de mudança de hábito que merece destaque é a
mobilidade. Devemos desconstruir a ideia de que o automóvel significa um alto
status e uma vida bem sucedida. Ser bem sucedido é compreender que a felicidade
está na busca do autoconhecimento e em trilhar esse caminho. Os automóveis
movidos a combustíveis fósseis respondem por grande parte da emissão de gases
poluentes na atmosfera. Optar pelo transporte público, por andar de bicicleta
ou mesmo a pé, da mesma forma que a mudança na alimentação, são atitudes que
contribuem para a saúde de nosso corpo físico, do nosso espírito e do nosso
planeta.
Na Nova Era que se inicia na Terra, a relação entre o ser
humano e a natureza deverá ser alçada a um novo patamar de compreensão: o
espiritual. Chegará o momento em que não haverá diferenciação entre evolução
espiritual e proteção da natureza, ou entre espiritualidade e ecologia. Na
atualidade ainda há essa distinção, pois o ser humano vive o que se chama de
"ilusão da separatividade", que significa que interpretamos Deus fora
de nós. Achamos que somos partes separadas do todo universal e assim se cria a
falsa necessidade da competição, da procura pela satisfação em coisas e
situações transitórias e da luta pela sobrevivência. Quando compreendemos que
somos um com Deus, passamos a ter acesso direto à fonte universal de energia
infinita, e nos tornamos os atores da mudança que sonhamos para o mundo. Deus
age através das nossas ações e assim passamos a respeitar integralmente a nós
mesmos e a natureza que nos cerca, pois ela é manifestação dEle e,
consequentemente, também nossa.
No futuro, quando toda a humanidade tiver essa consciência,
o sistema naturalmente se transformará. Aquelas armadilhas que nos prendem
automaticamente deixarão de existir, pois a sua fonte atual - o nosso medo -
sendo transmutada pelo amor, deixará de retroalimentá-las. Descobrindo novas
fontes de energia, não haverá a poluição pela queima de combustíveis fósseis e
o desenvolvimento de novas substâncias mais sutis, acabará com a contaminação
dos solos e dos rios, lagos, mares e oceanos. As cidades se reorganizarão, umas
deixando de existir e outras novas surgindo, e seu funcionamento interno se
dará em harmonia com o entorno regional, promovendo sua renaturalização e dele
tirando a fonte de seu sustento de forma equilibrada. Assim, serão sanadas
também todas as mazelas e injustiças sociais. E haverá o amor e respeito mútuo
entre o ser humano e todas as espécies de vida de todos os demais reinos da
natureza.
Podemos contribuir desde já para a materialização dessa
realidade futura. Basta desenvolvermos a fé verdadeira na Luz Divina em nossos
corações e exercitarmos nossa mente, para que ela se torne uma ferramenta
plenamente utilizável, que nos auxilie a colocar em prática ações que desafiem
o status quo externo e, principalmente, o interno. Assim, seremos os arquitetos
de um mundo de paz e amor em todos os aspectos e em toda a sua amplitude.
Por UCNF