terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Compaixão: a nossa vida através da vida dos nossos irmãos

Não há dor para quem tem compaixão. Não há sofrimento para aqueles que olham além de suas causas e que se sensibilizam com a dor alheia. A compaixão nos faz enxergar que no mundo onde a dor é constante, todos nós carregamos cruzes semelhantes, cada qual com seu peso, mas todas com o mesmo propósito de nos ensinar que somos responsáveis por erguer uns aos outros, toda vez que um cair pelo peso de sua cruz.
 
Todos nós queremos a paz e o equilíbrio; queremos a beleza, a juventude e a certeza. Todos nós queremos ter sonhos concretizados e viver num mundo bom e justo. Sim, todos nós queremos! Mas porque o mundo não atende a esses desejos tão enraizados no coração do ser humano? Afinal, não podemos atrair essa realização através da força do nosso pensamento? Tantos falam de amor, mas poucas demonstrações amorosas vemos na sociedade. Muitos falam de paz, mas a violência se torna cada vez mais presente. O que falta, para que o nosso sonho de um lugar melhor para viver se torne realidade?
 
O que falta é a quebra do sentimento de individualismo. Somos únicos em experiência, mas somos unos quando expressamos os nossos sentimentos diante dessas experiências, principalmente aquelas que provocam sofrimento. O fato é que cada um reage à dor segundo o seu estado de consciência, mas todos nós a sentimos. Todos nós sentimos dor, mesmo que a interpretemos de modo diferente.
 
 
O autoconhecimento é o que nos prepara para conhecer o porquê das nossas dores e o motivo de as desenvolvermos. Essa prática tão necessária se torna ainda mais fundamental no sentido de que é preciso nos conhecer para ver o outro em nós. Contudo, há uma lição ainda mais preciosa: o fato de que precisamos nos ver mais no outro, do que vê-lo em nós mesmos. E então, estarmos dispostos a nos colocar no lugar do outro, entendendo como ele reage às vicissitudes da vida, segundo o seu estado de consciência.
 
A tristeza, o medo, a ansiedade e outros sentimentos que estamos vivenciando, também pulsam no coração de todas as pessoas, maior ou menor intensidade. E as reações físicas a eles são mais comuns do que possamos imaginar: o frio na barriga, a falta ou excesso de apetite, o coração acelerado, são sintomas que nos humanizam porque mostram que diante das emoções perdemos o nosso individualismo e passamos a reagir de modo muito semelhante.
 
Por isso, precisamos abraçar mais a causa dos outros, do que as nossas causas e aprender a solucionar os nossos problemas ajudando na cura dos males que aflige os nossos irmãos. Quem ajuda alguém a lidar com a perda, curará em si a dor da saudade. Quem aconselha uma família diante das brigas entre seus membros, verá o quanto é importante buscar a harmonia no seu lar. Quem estende um ombro amigo para um coração partido, compreenderá o quanto é fundamental o amor próprio na construção de uma relação. Enfim, aprendemos a nos curar à medida que desenvolvemos em nós o sentimento da compaixão.
 
Mediante o sentimento de compaixão é que identificamos o intenso estado de sofrimento que envolve o nosso planeta. Quanta dor há em nossos lares, e nos lares dos nossos vizinhos; no nosso bairro, na nossa cidade... E assim vai crescendo a dimensão dessa egrégora de desequilíbrio que nos cerca. Será que queremos fazer parte disso? Ou será que já somos capazes de identificar que há muitos que já sofrem as dores que se iniciam em nosso peito?
 
Somos o ponto para a transformação, quando passamos a nos unir a quem necessita da mesma mudança que nós. Que possamos nos erguer simultaneamente no aprendizado mútuo, de que é preciso ter compaixão com o próximo para melhor entendermos a nós mesmos.

Por UCNF