Havia ali uma casa com um belo e amplo jardim. Árvores
exuberantes, diversas tonalidades de verde, muito vivos. Cores, animais,
movimento... Criação, vida se transformando em vida, o ar se renovando, a
natureza em sua mais bela forma. A cada viagem, imensa admiração e o pensamento
de quão perfeita é a criação divina. Um dia, a surpresa da ausência. O jardim
já não existia mais. Agora o que há é apenas uma pequena e simples casa e um
amplo espaço vazio. A que aquele jardim daria lugar? Observando os homens é
possível imaginar que ali pode se erguer um prédio com modernas instalações,
uma casa mais ampla e “confortável” ou um estacionamento, que poderá gerar
lucros ao proprietário do terreno. Quantos questionamentos surgem a partir
deste acontecimento...
Estamos deixando de valorizar a vida, perdemos o respeito e
a gratidão pela terra e pela Terra. Vivemos iludidos, crendo que aquisições
materiais podem nos fazer felizes, acreditando que eletrodomésticos modernos,
móveis e espaços luxuosos são sinônimos de conforto, estabelecendo com a
natureza uma relação exploratória. Pensamos que o mundo está aí para nos
servir, para satisfazer nossos prazeres mesquinhos e assim, destruímos,
matamos, inclusive a nós mesmos.
Vamos de tal forma nos embrenhando nessa alienação e vivemos
escravos do capital. Precisamos adquirir o que nos falta, e sempre falta algo.
Trabalhamos para explorar ainda mais o planeta. O suposto conforto faz de nós
seres preguiçosos, que mal conseguem movimentar o próprio corpo, que têm
dificuldade em executar ações simples como sentar-se ao chão. Sobrecarregamos
nosso corpo com nosso sedentarismo e envelhecemos acentuando ainda mais a nossa
má qualidade de vida.
Exploramos a natureza com nosso consumismo e cobiça
exacerbados. Esquecemos que precisa haver troca, que precisa haver respeito e
moderação. Se consigo desenvolver a consciência do que necessito para
sobreviver, utilizo os recursos de acordo com a minha necessidade, sem
desperdício.
Acreditamos ter conforto, mas o que temos é uma preguiça que
nos adoece e mata. Acreditamos ser merecedores de uma mesa exageradamente
cheia, de nos fartar do que o planeta nos oferece e não compreendemos o quão
mesquinho e egoísta é esse pensamento. Vivemos um momento crucial, em que nossa
conscientização se faz necessária, em que precisamos voltar nossa atenção aos
padrões de pensamento e comportamento que precisam ser modificados. Nós
sofremos as consequências de nossos atos impensados. Nossa relação com o
planeta precisa ser de troca. Fazemos todos parte desse meio. A natureza também
somos nós, portanto todo e qualquer desequilíbrio nos atinge. Talvez seja
possível dizer que todo desequilíbrio começa em nós mesmos e toma proporções
que consideramos trágicas em nossa limitada visão. A mudança, portanto, precisa
começar em cada consciência.
Reavaliemos o que consideramos como qualidade de vida.
Valorizemos a vida. É esse o nosso maior bem.
Por UCNF
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