"Recordo-me que, nos meus tempos de adolescente, aprendi na
igreja que a crença na reencarnação seria uma negação da cruz de Cristo e uma
mentira diabólica para as pessoas irem para o "inferno". Ensinaram-me
que pelo fato dos espíritas acreditarem ser preciso renascer outras vezes num
corpo físico estariam eles rejeitando a salvação proposta por Deus através da
graça. Esta, conforme me diziam, só seria alcançada mediante a aceitação do
sacrifício substitutivo de Jesus acompanhada de um arrependimento sincero de
pecados mais uma confissão pública de fé, a qual então se confirmaria pelo
batismo nas águas e por atos condizentes com uma vida regenerada.
Com o passar do tempo, vim a compreender que tinha uma visão
muito empobrecida da graça de Deus. Questões sobre como se
"salvariam" aqueles aos quais jamais foi anunciado o Evangelho de
Cristo (ou da Igreja) permaneciam em aberto. Também em relação aos israelitas
que viveram antes de Jesus nascer pairava outra dúvida já que eles desconheciam
o salvador e tinham uma concepção messiânica distinta do que consta na doutrina
baseada no cânon oficial do Novo Testamento.
Ora, mas será que Deus seria capaz de mandar a alma de uma
pessoa para o "inferno", destinando-a a sofrer eternamente, só porque
ela não escutou o discurso salvífico de um crente ou deixou de compreender a
mensagem que lhe foi pregada a ponto de ir à frente da congregação quando o
pastor fez o apelo no fim do culto? Que divindade sádica e injusta seria esta
inventada pelos cristãos fundamentalistas que condenaria a própria criação pra
assar num lago de chamas?!
Felizmente a própria vida e a realidade complexa das coisas
vieram a me ensinar sobre o quanto a graça divina é rica para com todos, indo
muito além da nossa compreensão restrita. Pois tal graça opera
independentemente da ação ministerial daqueles que se consideram portadores das
boas notícias salvíficas e alcança a todos os seres na condição em que cada um
se encontra. E aí pouco importam as nossas convicções pessoais sobre a
Divindade ou qual o conjunto de crenças de cada indivíduo.
Neste sentido, hoje admito não só a salvação dos
reencarnacionistas como também penso que eles estão debaixo da cobertura da
graça de Deus. Nem mesmo aqueles que seguem a corrente científica da
conscienciologia fundada pelo médico Waldo Vieira e que negam a religião,
baseando-se em estudos sobre o parapsiquismo e aplicando às suas pesquisas
aquilo que chamam de "princípio da descrença".
Admitindo como mera hipótese a reencarnação, apenas para
fins de raciocínio e reflexões, pergunto se, neste caso, uma Inteligência
Superior não estaria por trás de todo o sistema existencial crido pelos
espíritas e outras inúmeras tradições religiosas do planeta? Pois, se as
pessoas normalmente nascem, crescem, reproduzem, envelhecem, morrem e depois
retornariam renascendo em outro corpo, quem estaria regendo todo este ciclo
acima da vontade pessoal de cada um? Como conceber a existência de um sistema
que seria anterior ao homem sem admitir a existência de Deus?
Outrossim, por mais que muitos tentem negar, eu vejo a
operação da graça dentro da visão reencarnacionista e que jamais seria anulada
pelo carma. Porque mesmo que a consciência desencarnada precise retornar à
Terra para poder evoluir, tentar reparar o mal que fez ao outro na vida passada
ou então simplesmente compreender mais um pouco sobre si mesma, estaria a graça
ausente? E aí, se pensarmos bem, Deus, na visão de muitos espíritas, torna-se
até mais gracioso do que nas palavras arrogantes de certos pastores evangélicos
que tentam fazer do Evangelho uma coação baseando-se em partes da Bíblia para
que seus ouvintes "aceitem Jesus":
"Céu ou inferno? Onde você vai querer passar o resto da
eternidade?"
Todavia, tenho uma questão que vai contra o que a maioria
dos evangélicos fala e também em relação ao que vários espíritas dizem de outra
maneira. Entre estes, há quem afirme ser a Terra um lugar de sofrimentos, pelo
que nós estaríamos aqui porque precisaríamos sofrer o carma de vidas passadas.
E, por sua vez, tem predominado no meio evangélico a noção de que o mundo em
breve vai acabar e só nos restaria esperar por uma nova Terra. Só que eu sou
radicalmente contra estes pensamentos pois são concepções que não buscam
considerar o lado bom da vida aqui no presente e projetam a felicidade humana
para um momento futuro.
É nessas horas que o Evangelho do Reino de Deus cai como uma
luva para as nossas necessidades verdadeiras afim de convocar a humanidade
inteira para que transforme a triste realidade na qual ela se encontra hoje. O
Evangelho que considera a graça nos seus múltiplos aspectos busca é dialogar
com cada religião e cultura diferente afim de instigar uma transformação social
unida à espiritualidade, confirmando aquela frase da criação que, com
frequência, é repetida no capítulo um de Gênesis:
"Deus viu que isso era bom".
Para abraçar o Evangelho do Reino não é preciso tornar-se
cristão e nem aceitar um conjunto de crenças religiosas. Até a Bíblia torna-se
dispensável por mais que ela contenha valiosíssimos ensinamentos. Porque basta
que o homem compreenda a importância de contribuir para a transformação do
planeta e encontre dentro de si mesmo a paz, sabendo que é amado por Deus
incondicionalmente, sem precisar dar nada em troca. Nem mesmo a sua fé Nele.
Concluindo, se existe reencarnação ou não, trata-se de um
mistério que pouco deve nos importar. Por alguma razão maior a fisicalidade
oculta do homem os caminhos pelos quais percorre a alma, ainda que alguns
tenham suas experiências subjetivas do mundo espiritual por meio de fenômenos
paranormais. Porém creio que basta a revelação da instrução divina para que a
ponhamos em prática e assim estejamos bem aqui, sendo que é nesta vida que
precisaremos tomar atitudes aprendendo a ser felizes em harmonia com o bem
estar do próximo.
Que a graça de Deus seja com todos!"
Autor: Rodrigo P. A. da Luz
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