Não há dor para quem tem
compaixão. Não há sofrimento para aqueles que olham além de suas causas e que
se sensibilizam com a dor alheia. A compaixão nos faz enxergar que no mundo
onde a dor é constante, todos nós carregamos cruzes semelhantes, cada qual com
seu peso, mas todas com o mesmo propósito de nos ensinar que somos responsáveis
por erguer uns aos outros, toda vez que um cair pelo peso de sua cruz.
Todos nós queremos a paz e o
equilíbrio; queremos a beleza, a juventude e a certeza. Todos nós queremos ter
sonhos concretizados e viver num mundo bom e justo. Sim, todos nós queremos!
Mas porque o mundo não atende a esses desejos tão enraizados no coração do ser
humano? Afinal, não podemos atrair essa realização através da força do nosso
pensamento? Tantos falam de amor, mas poucas demonstrações amorosas vemos na
sociedade. Muitos falam de paz, mas a violência se torna cada vez mais
presente. O que falta, para que o nosso sonho de um lugar melhor para viver se
torne realidade?
O que falta é a quebra do sentimento
de individualismo. Somos únicos em experiência, mas somos unos quando
expressamos os nossos sentimentos diante dessas experiências, principalmente
aquelas que provocam sofrimento. O fato é que cada um reage à dor segundo o seu
estado de consciência, mas todos nós a sentimos. Todos nós sentimos dor, mesmo
que a interpretemos de modo diferente.
O autoconhecimento é o que nos
prepara para conhecer o porquê das nossas dores e o motivo de as
desenvolvermos. Essa prática tão necessária se torna ainda mais fundamental no
sentido de que é preciso nos conhecer para ver o outro em nós. Contudo, há uma
lição ainda mais preciosa: o fato de que precisamos nos ver mais no outro, do
que vê-lo em nós mesmos. E então, estarmos dispostos a nos colocar no lugar do outro,
entendendo como ele reage às vicissitudes da vida, segundo o seu estado de
consciência.
A tristeza, o medo, a ansiedade e
outros sentimentos que estamos vivenciando, também pulsam no coração de todas
as pessoas, maior ou menor intensidade. E as reações físicas a eles são mais
comuns do que possamos imaginar: o frio na barriga, a falta ou excesso de
apetite, o coração acelerado, são sintomas que nos humanizam porque mostram que
diante das emoções perdemos o nosso individualismo e passamos a reagir de modo
muito semelhante.
Por isso, precisamos abraçar mais
a causa dos outros, do que as nossas causas e aprender a solucionar os nossos
problemas ajudando na cura dos males que aflige os nossos irmãos. Quem ajuda
alguém a lidar com a perda, curará em si a dor da saudade. Quem aconselha uma
família diante das brigas entre seus membros, verá o quanto é importante buscar
a harmonia no seu lar. Quem estende um ombro amigo para um coração partido,
compreenderá o quanto é fundamental o amor próprio na construção de uma
relação. Enfim, aprendemos a nos curar à medida que desenvolvemos em nós o
sentimento da compaixão.
Mediante o sentimento de
compaixão é que identificamos o intenso estado de sofrimento que envolve o
nosso planeta. Quanta dor há em nossos lares, e nos lares dos nossos vizinhos;
no nosso bairro, na nossa cidade... E assim vai crescendo a dimensão dessa
egrégora de desequilíbrio que nos cerca. Será que queremos fazer parte disso?
Ou será que já somos capazes de identificar que há muitos que já sofrem as
dores que se iniciam em nosso peito?
Somos o ponto para a
transformação, quando passamos a nos unir a quem necessita da mesma mudança que
nós. Que possamos nos erguer simultaneamente no aprendizado mútuo, de que é
preciso ter compaixão com o próximo para melhor entendermos a nós mesmos.
Por UCNF